Evento ocorreu na Universidade Federal do ABC
Você está familiarizado com o termo “ciência cidadã”? Muitos ainda não conhecem, mas é um dos ramos mais importantes da ciência. Essa área consiste na parceria entre cientistas e cidadãos interessados em ciência que, juntos, realizam estudos e coletas de dados para desenvolver pesquisa científica. É uma colaboração extremamente eficiente e que gera bons frutos para os avanços científicos, uma vez que une a expertise de cientistas com a alfabetização científica dos cidadãos. Desta forma, eles se tornam cada vez mais capazes de proteger o que é impulsionado pela ciência.
No Brasil, em 2021, foi fundada a Rede Brasileira de Ciência Cidadã (RBCC), com o objetivo de ampliar o diálogo entre os interessados no tema. No mesmo ano, a rede promoveu o I Workshop da RBCC, a fim de discutir os desafios e oportunidades da ciência cidadã no Brasil. Já em 2022, foi realizado o II Workshop da RBCC, para dar visibilidade aos trabalhos em andamento no país.
Após dois anos, a RBCC promoveu o I Encontro Brasileiro de Ciência Cidadã (EBCC), para consolidar o campo da ciência cidadã no país, seguindo as missões e objetivos estipulados pela rede, bem como para discutir de forma estratégica e democrática quais os rumos desse campo de pesquisa e de prática no Brasil.
O evento ocorreu entre os dias 10 e 12 de setembro, na Universidade Federal do ABC, campus São Bernardo do Campo, e contou com a participação de pesquisadoras do NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos.
Doutora María Martha Torres Martínez realizando sua apresentação no I EBCC
“A participação no EBCC foi de grande importância, porque representa o primeiro espaço acadêmico dessa modalidade no Brasil dedicado à discussão e ao intercâmbio de ideias sobre ciência cidadã. Para mim, essa experiência foi valiosa. Permitiu a troca de conhecimentos sobre projetos em andamento, o contato com colegas que atuam na área e a oportunidade de conhecer novas iniciativas. Além disso, o evento proporcionou a chance de estabelecer parcerias e colaborações, além de divulgar os trabalhos desenvolvidos no NAPI com foco em ciência cidadã”, afirmou a pesquisadora do Arranjo, doutora María Martha Torres Martínez.
O I EBCC contou com diversas palestras, apresentação de pesquisas e estudos, direcionados m cinco eixos temáticos distintos: A ciência da ciência cidadã; Desenvolvimento, metodologias e aplicações de projetos de ciência cidadã; Formação e Engajamento em ciência cidadã; Implicações e impactos políticos da ciência cidadã; e Infraestruturas, Tecnologias e Dados da Ciência Cidadã
As pesquisadoras do Arranjo, doutora Ana Alice Eleuterio e doutora Martínez, realizaram a apresentação do pôster intitulado “Formação de professores utilizando ciência cidadã para a prevenção da dengue”. O texto e fruto de um trabalho que combina divulgação científica e atividades com crianças em espaços de educação não formal. A ideia é promover o desenvolvimento de material didático e cursos de formação de professores. De acordo com as pesquisadoras, os materiais produzidos são testados pela equipe do projeto, reformulados, e divulgados para acesso público.
Os materiais foram utilizados em cursos remotos de formação de professores. Docentes de Ensino Fundamental realizaram atividades de experimentação utilizando ovitrampas, baseadas em planos de aula que envolveram o protocolo de ciência cidadã. A partir dos resultados gerados com os cursos, foi desenvolvido uma nova formação para os professores da rede pública de ensino de Foz de Iguaçu.
Doutora Ana Alice Eleuterio realizando sua apresentação no I EBCC
Claro que é super importante ter um retorno sobre o impacto das práticas de ciência cidadã nos contextos escolares e nas práticas pedagógicas. Por isso, as pesquisadoras desenvolveram um questionário misto contendo afirmações e perguntas abertas para coleta de informações pessoais e de percepção. Essas respostas que virão dos professores vao colaborar para o uso e aplicação da ciência cidadã nas escolas.
Eleuterio e Martínez, juntamente com a pesquisadora Sonia Marcela Ospina Rengifo, também apresentaram o trabalho “Contribuições da ciência cidadã no controle de espécies invasoras: uma revisão sistemática”. Segundo as cientistas, a ciência cidadã é uma ferramenta importante na identificação, monitoramento e controle de espécies invasoras, facilitado pelo avanço das ferramentas tecnológicas, o que colabora para a pesquisa, vigilância e gestão dessas espécies.
Elas realizaram uma revisão sistemática da literatura sobre a temática, em bases de pesquisa científica, selecionando 200 artigos, dos quais 40 foram analisados. Entre os estudos de caso, 36% abordaram plantas, 14% algas, 28% animais marinhos e 22% insetos. As pesquisadoras identificaram abordagens de ciência cidadã nas diferentes etapas da invasão biológica, com ênfase na vigilância, que incluiu o treinamento de voluntários e a utilização de plataformas como iNaturalist para monitoramento da distribuição e detecção precoce das espécies invasoras.
Doutora María Martha Torres Martínez realizando sua apresentação no I EBCC
A partir do estudo, as cientistas perceberam uma grande importância das redes sociais para engajamento público e registro de espécies invasoras, priorizando a qualidade da informação, equipamento adequado, metodologia robusta e a capacitação contínua. Segundo elas, esses são elementos essenciais para o sucesso a médio e longo prazo da ciência cidadã para espécies invasoras.
Graças ao evento, estudos desenvolvidos dentro do NAPI são capazes de alcançar pessoas de fora do Arranjo. “A participação no evento foi crucial para o NAPI SE, já que foi o espaço propício para apresentar os projetos que estamos desenvolvendo na área de ciência cidadã. Também foi uma oportunidade de obter feedback de especialistas, o que é essencial para aprimorar nossos projetos e refletir sobre os próximos passos a serem dados. Essa interação enriqueceu nossas iniciativas e fortaleceu nosso compromisso com a promoção da ciência cidadã”, afirma Martínez.