Parque Tecnológico Itaipu recebe evento do NAPI Biodiversidade

Pesquisadores brasileiros e australianos realizaram apresentações sobre suas pesquisas

Chegamos ao último dia da Missão de Pesquisadores Estrangeiros no Paraná, em Foz do Iguaçu! Os pesquisadores tiveram a honra de participar de um evento dentro das instalações do Parque Tecnológico Itaipu (PTI), onde são desenvolvidas diversas pesquisas e estudos com foco em inovação e sustentabilidade. 

 

A Missão foi encerrada no dia 13 de abril com uma sessão que tem tudo a ver com o PTI: água. “Ecotoxicologia e genômica aplicadas à conservação e saúde de ambientes de água doce”. As discussões foram mediadas pela coordenadora do NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos e professora na Universidade Estadual de Maringá (UEM), doutora Claudia Costa Bonecker.

 

A primeira apresentação, “Água doce na Austrália”, ficou por conta do professor e pesquisador da Macquarie University, doutor Grant Hose. As pesquisas realizadas pelo professor envolvem o uso de DNA ambiental (eDNA), que é deixado pelo ser vivo que passa por determinado ambiente. É obtido por meio de amostras ambientais, como solo, ar ou, nesse caso, água. Assim, é possível detectar vestígios e confirmar a presença de uma espécie em um espaço ou mesmo realizar um levantamento das espécies que estiveram presentes em um local. 

Doutor Grant Hose realizando sua apresentação

Com a técnica de uso de eDNA, os pesquisadores conseguem analisar condições fluviais, impactos gerados por mineração em rios e aquíferos e as condições ambientais de rios e seus entornos. A pesquisa de Grant está focada nas águas subterrâneas da Austrália, que são aquelas que não vemos por aí, pois estão muito abaixo dos níveis do rios, lagos e mares. O professor apresentou o seguinte infográfico, que apresenta o ciclo da água e mostra como essas águas são preservadas no solo:

Ciclo da água apresentado pelo doutor Grant Hose

As pesquisas são realizadas por meio de coletas de água, que são retiradas de poços artesianos, e a partir das amostras são procuradas espécies de invertebrados; são feitas análises da qualidade da água; são coletados exemplos de protozoários, além de ser extraído e caracterizado o DNA e o RNA do ambiente. Todos esses dados servem para unir informações sobre os ambientes e desenvolver índices de avaliação da saúde e a condição dos ecossistemas de águas subterrâneas.

 

Um estudo também foi realizado em áreas agrícolas. “Principalmente onde temos pastagens para gado ou lavouras, aplica-se muita água, por causa da irrigação do ambiente. Então, você pode ver que quando a área é irrigada tem muitos nutrientes. A água leva nutrientes para o lençol freático. Esses invertebrados têm muito o que comer. Portanto, há muitos deles. Cria mais animais em comparação com áreas agrícolas não irrigadas”, afirma Grant.

 

Além disso, o pesquisador faz trabalhos com seus alunos em lagoas no próprio campus da universidade, aproximando ainda mais a prática da teoria. “Temos feito diversas pesquisas sobre estresses, com estresses biológicos e químicos, entendendo como eles impactam os ecossistemas de água doce usando eDNA para caracterizar as comunidades”, comenta o professor. 

 

E, claro que, no Brasil, também há muita pesquisa envolvendo água. A pesquisadora do Laboratório de Ecofisiologia Animal (LEFA), da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Caroline Santos, realizou a apresentação “Avaliação da saúde de ambientes aquáticos continentais através da análise de biomarcadores em animais de água doce”, com dados dos avanços realizados pelo Laboratório, quel é coordenado pela professora doutora Claudia Bueno dos Reis Martinez. 

Pesquisadora Caroline Santos realizando sua apresentação

A pesquisadora apresentou os diversos compostos prejudiciais gerados pelo homem e que são depositados no nosso meio ambiente, causando poluição. Seja nos ambientes aquáticos, na nossa comida, no solo ou no ar que respiramos, esses componentes estão presentes. O foco do LEFA é nos compartimentos aquáticos e nos animais que vivem nesses ambientes.

 

“Nosso grupo de pesquisa se concentra em estudos de campo e estudos de laboratório. Em estudos de campo, podemos coletar animais silvestres para entender como eles são afetados pelos contaminantes ali presentes, mas não conseguimos saber exatamente quanto tempo o animal ficou exposto aos contaminantes. Podemos, apenas, compreender a dinâmica ambiental que pode influenciar os resultados biológicos”, afirma Santos.

E é aí que entra a importância dos estudos em laboratório. Os pesquisadores têm a liberdade de controlar algumas variáveis como a temperatura, a concentração dos produtos químicos ou mesmo a quantidade de tempo que o animal fica exposto a um contaminante, gerando resultados mais precisos das situações encontradas na natureza. 

 

De acordo com Caroline, a equipe do LEFA analisa os chamados biomarcadores, que são a alteração do estado normal do ser vivo. Eles são usados ​​para monitorar os possíveis efeitos da contaminação ambiental e fornecer sinais de alerta precoce antes que ocorram danos irreversíveis. Assim, os pesquisadores compreendem de que forma os contaminantes podem afetar o ambiente em que se encontram. 

 

“Os biomarcadores são medidos em nível individual, mas podem prever o que acontece em nível populacional”, afirma a pesquisadora. Assim, os trabalhos realizados com alguns peixes no laboratório, por exemplo, trarão conclusões sobre a vida dos peixes em nossas águas paranaenses. 

 

Outro trabalho que é feito com o objetivo de analisar nossas águas e a vida existente nela é do programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração da Planície de Inundação do Alto do Rio Paraná (PELD – PIAP). O programa é coordenado por Claudia Bonecker e é feito desde o reservatório de Porto Primavera, em São Paulo, até o início do Reservatório de Itaipu.

Doutora Claudia Bonecker realizando sua apresentação

Os pesquisadores conseguem abranger 21 áreas em diferentes escalas espaciais e temporais: geomorfologia, hidrologia, limnologia, fitoplâncton, perifíton, aquático, macrófitas, mata ciliar, bacterioplâncton, protozooplâncton, zooplâncton, ictioplâncton, ictioparasitologia, ostracodes, macroinvertebrados bentônicos, ictiofauna, anfíbios, avifauna, mamíferos, ecologia energética, genética molecular e educação.

 

A professora explica que a biodiversidade desse grande trecho de águas paranaenses sofre tanto efeitos naturais, quanto efeitos antrópicos, ou seja, possui influência de atividades humanas e consequências de ações da natureza.

 

Com as barragens, por exemplo, da usina de Itaipu, há impactos no comportamento dos rios e de sua flora e fauna. Há diversos períodos de seca depois das inundações das barragens, o que pode promover a diminuição de espécimes no ambiente, como dos fitoplânctons, zooplânctons, vertebrados, algas e peixes.

 

Da mesma forma, há impactos com acontecimentos naturais. O El Niño, por exemplo, causa oscilações nas temperaturas no sul do Brasil, fazendo com que ele seja a principal fonte de variação para a diversidade gama – que é conjunto de espécies no contexto regional – das comunidades de plânctons em lagos subtropicais rasos. 

 

Mas a pesquisa não fica apenas em laboratórios e nas universidades. Com os resultados gerados, o PELD PIAP também participa de feiras de ciências, apresentação de projetos e promove ações em escolas para dar um retorno de conhecimento científico para a sociedade. Em especial, promovendo o desenvolvimento de ações educativas para alunos de escolas.

Doutora Claudia Bonecker realizando sua apresentação

Por fim, a última apresentação, “DNA ambiental como ferramenta de monitoramento ictiológico na ITAIPU – resultados e perspectivas”, ficou por conta da servidora da Itaipu Binacional, Caroline Henn. Assim como o professor Grant, Henn trouxe mais formas de pesquisa com o uso do eDNA. 

 

De acordo com a servidora, as coletas e estudos envolvendo a vida aquática em Itaipu acontecem desde o início do represamento, em 1977. “Desde as primeiras coletas de peixes que encontramos aqui na área do represamento, conseguimos fazer diversos avanços na preservação dessa diversidade. São 221 espécies de peixes, então temos uma alta riqueza de peixes”, afirma Henn. 

 

Para promover estudos ainda mais avançados, desde 2002 existe o Canal Piracema, que é o sistema de transposição de peixes na represa de Itaipu. Segundo a servidora, são feitas coletas periódicas de peixes desde 2004, nos mais de 10 km de extensão do canal. 

Caroline Henn realizando sua apresentação

“As pesquisas para coleta de peixes são feitas todos os anos em três locais: na entrada do sistema de transposição de peixes, no meio do sistema e na saída dos peixes, que estão migrando rio acima. Os peixes são analisados ​​e identificados em laboratório e começamos há alguns anos a coletar amostras de tecidos para ter um banco de informações das espécies de peixes. Já foram identificadas 27 espécies apenas com eDNA”, afirma Henn.

 

Além dos peixes, o monitoramento no canal e os trabalhos com DNA ambiental já permitiram a identificação de 189 de peixes, 21 mamíferos e 10 pássaros. Isso permite que os pesquisadores tenham uma noção muito mais clara de quais animais estão passando pelo ambiente e de que forma eles podem colaborar na preservação de um local convidativo e que seja uma casa para essas espécies. 

 

Todas essas pesquisas no Brasil se justificam fortemente, afinal é o país com maior quantidade de água doce do mundo, possuindo cerca de 12%, o que também constitui 53% dos recursos hídricos da América do Sul.

E o último dia de Missão não acabou nesta sessão! Continue conectado às redes do NAPI Biodiversidade para ficar por dentro das últimas ações promovidas no evento. 

Participantes da Missão durante as apresentações

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