O evento ocorreu na Universidade de la Frontera
As mudanças climáticas e os ambientes extremos têm sido temas super discutidos no Brasil, nas últimas semanas. A popularização desse debate é fundamental para que a sociedade tenha contato com as consequências das ações humanas inconsequentes no nosso planeta. Escutar, entender e aceitar o que pesquisadores têm a nos dizer, é fundamental para que ações de preservação sejam tomadas da melhor maneira possível.
E essa é uma discussão necessária não só no Brasil, como em todo o mundo. Por isso, nos dias 13 e 14 de maio, ocorreu, no Chile, o “II Workshop Latino-Americano sobre Nano e Biotecnologia: Estratégias de Adaptação em Sistemas Agrícolas, Mudanças Climáticas, Ambientes Extremos e Saúde Humana”.
O evento foi sediado pela Universidade de la Frontera, com sede em Pucón, com o objetivo de discutir mudanças climáticas, microbiologia de ambientes extremos, nanotecnologia e agricultura, bem como nanotecnologia e saúde humana.
Pesquisadores brasileiros no II Workshop Latino-Americano sobre Nano e Biotecnologia
O coordenador geral do NAPI Biodiversidade: RESTORE, doutor Halley Caixeta de Oliveira, foi um dos pesquisadores convidados para participar do evento. Oliveira realizou duas importantes apresentações.
A primeira, denominada “Aplicações agrícolas de nanopesticidas e nanofertilizantes” foi mais focada em nanopesticidas e nanofertilizantes, com aplicação na agricultura. “Foram apresentados resultados de algumas formulações à base de nanotecnologia. Elas foram desenvolvidas para o controle de plantas daninhas, para a proteção de plantas contra estresses, bem como para a nutrição de plantas”, afirma o coordenador geral.
A segunda apresentação, “Nanotecnologia e microrganismos associativos como soluções baseadas na natureza para melhorar as respostas das plantas às mudanças climáticas”, foi uma abordagem mais geral, envolvendo as questões de mudanças climáticas e diferentes soluções baseadas na natureza. A fala trouxe aspectos ligados à agricultura, mas também às questões de reflorestamento.
“Eu comentei sobre diferentes projetos do nosso grupo de pesquisa que contribuem nessa temática envolvendo organismos associativos, nanobioestimulantes e materiais com compostos”, explica Oliveira.
Doutor Halley Caixeta de Oliveira realizando sua apresentação
Além do professor, três alunos da Universidade Estadual de Londrina (UEL) realizaram apresentações durante o Workshop. A aluna de doutorado do programa de Pesquisa e Pós-Graduação (PPG) em Agronomia da UEL, Janaína da Silva, falou sobre o nanopriming de sementes e como a técnica melhora a qualidade de frutos do tomate.
O nanopriming é a associação da nanotecnologia à prática do priming. Este é um tratamento pré-semeadura que controla o nível de hidratação dentro da semente, colaborando para que um grupo de sementes germine rapidamente e todas ao mesmo tempo. Isso faz com que o cultivo de tomates, por exemplo, seja mais eficiente.
Já a aluna do PPG em Ciências Biológicas da UEL, Giovanna Camargo do Carmo, explanou sobre sua pesquisa com mudas de Cecropia pachystachya, que foram submetidas a estresse hídrico moderado, ou seja, a um ambiente com pouca água. Depois, foi feita a aplicação de nanopartículas nas plantas, com o objetivo de auxiliá-las nesses tipos de ambientes.
Por fim, o aluno de mestrado do PPG em Ciências Biológicas da UEL, Leonardo Fernandes Tavares, apresentou suas pesquisas sobre a influência de bactérias promotoras de crescimento na germinação de sementes de embaúba-do-brejo (Cecropia pachystachya Trécul).
Mestrando Leonardo Fernandes Tavares realizando sua apresentação
Conhecimento internacional
O professor Caixeta afirma que, além dos chilenos, também havia diversos pesquisadores da Argentina, do México, além de outras instituições do Brasil. “Isso permitiu a troca de uma série de informações, de questões de metodologia, de ideias para trabalhos em conjunto, nas áreas de inoculantes, de microrganismos, de prospecção de microrganismos e também associativos de plantas, bem como de nanotecnologia, de novas formulações”, explica o coordenador geral do NAPI Biodiversidade: RESTORE.
Além disso, o professor comentou que o NAPI Biodiversidade está articulando uma pesquisa envolvendo pesquisadores do Brasil, Chile e Austrália. Isso porque todos esses países possuem espécies de Araucárias para serem estudadas.
“O local onde foi o evento é em um Estado do Chile chamado Araucânia, por causa de uma espécie de Araucária chamada Araucaria araucana. Esse tipo fica em lugares bem frios e mais altos. Nós visitamos essa área onde ela ocorre naturalmente, no dia estava até com neve lá fora”, explica o professor.
Visita à área de ocorrência de espécie de Araucária
Por isso, essa parceria entre os três países está em desenvolvimento. “Justamente para entender a ecologia dessa espécie, como é a questão da história evolutiva dela e como que ela vai responder às mudanças climáticas, ao aumento de temperatura e à seca. Assim, tentando achar padrões nas respostas e estudos genéticos também, porque elas são pouco estudadas”, afirma Oliveira.
Um trabalho em rede, em nível mundial, é perfeito para que os pesquisadores consigam trocar experimentos padronizados, tentando entender melhor como as diferentes espécies de Araucária respondem a essas condições ambientais mais extremas.
“Foi muito bom participar desse evento porque, além de ter um contato com os pesquisadores do Chile que atuam lá, também tivemos com as suas pesquisas. Então, lá tem pesquisadores que atuam tanto na área de nanotecnologia aplicada ao meio ambiente, como também à agricultura. São temas muito alinhados com os do NAPI Biodiversidade”, afirma Oliveira.