Pesquisadores apresentam sobre ecologia vegetal do Brasil e Austrália

As apresentações ocorreram durante a Missão de Pesquisadores Estrangeiros no Paraná

Os dias da Missão de Pesquisadores Estrangeiros no Paraná em Guarapuava foram super intensos! Diversas discussões e debates acerca de serviços ecossistêmicos, financiamento de pesquisa, inovação científica e, não poderia faltar, a ecologia do nosso planeta. No último dia de Missão na cidade, 11 de abril, a sessão temática “Ecologia vegetal”, coordenada pelos professores da Universidade Estadual de Londrina (UEL), doutor José Marcelo Domingues Torezan, e da Universidade Federal do Paraná (UFPR), doutor Victor Zwiener, trouxe análises acerca da temática tanto no Brasil, quanto na Austrália.

Participantes da Missão de Pesquisadores Estrangeiros no Paraná, no último dia de evento em Guarapuava

Torezan iniciou os trabalhos com a apresentação “Respostas de sítios de restauração e remanescentes de Mata Atlântica Sazonal às pressões ambientais”. O pesquisador está vinculado ao Laboratório de Biodiversidade e Restauração de Ecossistemas (LABRAE), da UEL, que tem o objetivo de promover pesquisa ecológica, extensão comunitária e instalação de ensino voltadas à conservação e restauração de Florestas Estacionais Semideciduais Atlânticas.

 

O professor também é coordenador do grupo Pesquisa Ecológica de Longa Duração da Mata Atlântica do Norte do Paraná (PELD MANP), o qual é o sítio de restauração em que as pesquisas, análises e levantamentos são realizados.

Doutor José Marcelo Domingues Torezan realizando sua apresentação

De acordo com Torrezan, um dos objetivos de sua pesquisa é analisar os efeitos da mortalidade e do recrutamento de árvores nos estoques de biomassa, sejam em áreas de Florestas Fragmentadas (FF) – encontradas na paisagem agrícola – ou nos Sítios de Restauração (RS) – reflorestamentos com espécies nativas.

 

Além disso, há o propósito de examinar as dinâmicas geradas a partir do agrupamento de espécies lenhosas, o que permite rastrear a trajetória de longo prazo das florestas em restauração. Isso será feito a partir da definição de parcelas permanentes em FF e SR para realizar a amostra de plantas lenhosas, além de experimentos de introdução de sementes e mudas em campo e, também, a instalação de sensores microclimáticos em partes da vegetação. 

 

E não para por aí! A pesquisa também permitirá a realização de experimentos de estresse hídrico em mudas em estufa, ou seja, testes com plantas vivendo com falta de água, bem como permitirá a criação de um banco de dados funcional com informações significativas de plantas lenhosas. Isso será capaz de gerar modelos de mudanças futuras nas florestas, levando em consideração características das espécies, ou seja, os pesquisadores conseguirão prever comportamentos de espécies vegetais no ambiente, promovendo ações de conservação ou restauração muito mais eficazes.

Público presente no evento Missão de Pesquisadores Estrangeiros no Paraná

“O nosso sonho é ter dados suficientes dos modelos, porque temos um cronograma único de observações. Mesmo sendo um longo período de pesquisa, temos um curto espaço de tempo para tais observações, e elas mudam muito rapidamente. Portanto, é muito útil ter modelos para prever os próximos anos e poder tomar medidas para melhorá-los”, afirma Torezan.

 

A participação de um outro laboratório também está trazendo avanços em pesquisas sobre ecologia vegetal. O coordenador do Laboratório de Ecologia Funcional de Comunidades (LABEF), da UFPR, doutor Marcos Carlucci, realizou  a apresentação  “Da ecologia baseada em traços à conservação e restauração: a pesquisa no LABEF”. 

 

De acordo com Carlucci, o Laboratório possui duas linhas principais de pesquisa: “biodiversidade e funcionamento dos ecossistemas”, e “conservação e restauração”. Para evidenciar os trabalhos desenvolvidos nessas áreas, o professor preferiu apresentar as pesquisas feitas por cada um dos pesquisadores. 

 

Dentro da área para compreender as dinâmicas existentes entre florestas e pastagens, a mestre Raissa Jardim fez um estudo sobre o Paraná, em um período de 10 anos. Desde 2012 até 2022, a mestre e o professor acompanharam, juntos, as estratégias ecológicas das espécies para sua sobrevivência. “Estamos estendendo as características funcionais das plantas, nas florestas e nos pastos, para outras características além das características foliares. Como, por exemplo, as características de raízes, considerando a densidade das raízes e algumas características de resistência”, afirma Carlucci. 

Doutor Marcos Carlucci realizando sua apresentação

Além dela, o doutorando Elielson Ferreira está desenvolvendo a pesquisa “Padrões funcionais e filogenéticos em mosaicos florestais-campestres do sudoeste e sul do Brasil”, abordando o espaço desde Minas Gerais até o Rio Grande do Sul. Já o mestrando Adler Barboza investiga como as temperaturas extremas de calor e frio afetam as plantas lenhosas que se expandem nas pastagens.

 

Na área da regeneração das araucárias estão sendo desenvolvidos dois estudos. O mestrando Josué Araldi está investigando como as características juvenis das araucárias variam ao longo de um gradiente de luz, enquanto o mestre Pedro Kotovski estuda de que forma a defaunação de mamíferos de grande e médio porte afetam a regeneração de araucárias. A defaunação é uma situação que ocorre, especialmente, devido à caça e fragmentação do habitat, sendo definida pela diminuição da riqueza, diversidade e biomassa de animais da floresta.

 

Na temática da conservação da Floresta Mista de Araucária, a mestre Bruna Zorek realizou, há alguns anos, um trabalho sobre a situação desta floresta com base em imagens de satélite e, atualmente, a mestre Gabrielle Souza e a mestranda Amanda Tomazi dão continuidade ao estudo.

Público presente no evento Missão de Pesquisadores Estrangeiros no Paraná

Com as imagens, elas comprovaram a deterioração ocorrida na Floresta Mista de Araucárias, que teve uma redução extremamente considerável em 30 anos, sobrando poucos remanescentes originais da floresta. É um trabalho de coleta e análise de dados. “E do lado da restauração, avançamos em alguma estrutura metodológica quantitativa para selecionar espécies para direcionar serviços ecossistêmicos na restauração”, afirma o coordenador do LABEF.

 

E, claro que quem coordena a sessão, também apresenta. Zwiener, focou sua fala na conservação do nosso meio-ambiente. “Ecologia e conservação da Mata Atlântica: uma abordagem multiescala” foi o título da sua apresentação, em que ele já iniciou mostrando a alta biodiversidade encontrada em nossa floresta, a qual, infelizmente, vem sendo extremamente devastada ao longo dos anos.

 

De acordo com o pesquisador, a Mata Atlântica agora é entendida como um hotspot de conservação. Um termo que é conhecido por poucos, mas que a maioria das pessoas com certeza consegue visualizar a situação quando definido: são as áreas naturais do planeta que possuem grande diversidade ecológica e, ao mesmo tempo, estão em risco de extinção.

Doutor Victor Zwiener realizando sua apresentação

Considerando esse risco, é fundamental entender melhor quais espécies compõem esse ambiente, para criar mecanismos de preservação. “Nesse cenário, um dos objetivos que me propus a compreender é qual é a biodiversidade que temos, quais são as espécies que conhecemos e qual a informação disponível. Então, uma das coisas que estou fazendo é compilar informações disponíveis ao público, para entender as espécies que ocorrem e o número de ocorrências que temos”, afirma o pesquisador. 

 

“Com essas informações desenvolvemos novos planos e novas formas de priorizar áreas para conservação e restauração. Dessa forma, fornecemos uma solução à sociedade para proteger e restaurar a incrível biodiversidade que temos em nosso país. Assim, gerando diferentes cenários, diferentes hipóteses, de diferentes formas para apoiar as políticas e as decisões tomadas pelos políticos no governo”, comenta Zwiener. 

 

Austrália

 

Além da ecologia vegetal brasileira, também foi discutida a australiana. O chefe do Centro de Pesquisa para Resiliência de Ecossistemas do Botanic Gardens of Sydney, doutor Maurizio Rossetto, realizou sua apresentação “Ecologia interdisciplinar e pesquisa de evolução”, para mostrar aos participantes da Missão os estudos e avanços que têm sido feitos no Centro de Pesquisa para Resiliência de Ecossistemas.

Doutor Maurizio Rossetto realizando sua apresentação

Os pesquisadores utilizam dados genômicos, ambientais e ecológicos para investigar padrões de distribuição da biodiversidade. Além disso, os cientistas têm como missão traduzir essas informações coletadas em ações de gestão da biodiversidade, como, por exemplo, o desenvolvimento de políticas, a otimização da restauração ou mesmo a conservação de espécies ameaçadas. 

 

Uma das questões mais importantes que têm guiado os pesquisadores em seus estudos é a do “Por que as espécies são distribuídas e agrupadas da maneira que são?”. Os atuais estudos feitos para responder essa pergunta contam com a utilização das sementes das plantas e estudos da reprodução das mesmas. As plantas são organismos com facilidade de deslocamento, seja pela água, ar ou com auxílio de espécies animais. Dessa forma, o passo inicial para compreender sua distribuição é por meio de suas sementes.

 

Além disso, um trabalho muito importante feito pelo Centro é na área da ciência da conservação ex situ. A tradução literal para esse termo é conservação “fora do lugar de origem” e essa técnica é utilizada para a proteção de espécies em risco de extinção. As espécies, sejam animais ou vegetais, são realocadas de seu habitat, uma vez que ele se encontra ameaçado, para uma nova área, que pode ser uma outra zona selvagem ou um cativeiro. Dessa forma, no Centro, são estudadas e aprimoradas técnicas de conservação ex situ, bem como meios de translocação.

 

Já o professor da Western Sydney University e pesquisador do The Hawkesbury Institute for the Environment (HIE), doutor Ian Wright, trouxe uma visão geral do que tem sido desenvolvido no instituto, por meio da apresentação “Pesquisa em ecologia vegetal no HIE”.

Doutor Ian Wright realizando sua apresentação

Na área de pasto e ecologia de pastagens, ele abordou as pesquisas de Sally Power e Elise Pendall. As pesquisadoras realizam estudos, em estufas, envolvendo pastagens e suas reações a eventos climáticos. Elas induzem o aquecimento do ambiente, aumentando 3ºC, e também simulam chuvas para analisar o comportamento das pastagens. Além disso, têm realizado testes misturando leguminosas e ervas para compreender quais combinações são as melhores para aumentar a resiliência climática e o armazenamento de solo C – é a zona de transição entre a rocha-mãe e as demais camadas do solo – dos sistemas de pastagens.

 

Já no tema de ecologia da conservação e restauração de plantas, os pesquisadores Rachael Gallagher, Paul Rymer e Uffe Nielsen analisam as ameaças de desmatamento, animais selvagens, doenças, mudanças nos regimes de fogo e mudanças climáticas. 

 

Os cientistas atuam em duas frentes: com pesquisas em estufa e pesquisas no campo. No primeiro ambiente, analisam as respostas das plantas à seca e ao calor, avaliando a capacidade adaptativa das mesmas às alterações climáticas. Já no campo, pesquisam a abundância e distribuição de espécies, o papel dos traços funcionais na resiliência e na vulnerabilidade das plantas, quais são as interações planta-polinizador existentes, bem como testam paradigmas de estabelecimento de mudas e sucesso de plantas em plantios em grande escala.

 

“Há uma ênfase real na conservação e restauração ecológica de plantas, e, se você tiver que resumir, a missão desse trabalho dentro do Instituto é integrar a pesquisa experimental e de campo para desenvolver métodos e estratégias inovadores. E o trabalho, claro, ocorre tanto na estufa quanto no campo. Agora também temos algumas plantações em grande escala em andamento e uma das vantagens de ser uma universidade rural é que temos muita terra disponível”, afirma Wright.

Doutor Ian Wright realizando sua apresentação

Na área da ecologia urbana e alterações climáticas também há pesquisadores engajados. Manuel Esperon-Rodriguez e Mark Tjoelker realizam estudos buscando responder duas perguntas principais: “quais espécies de árvores urbanas são mais vulneráveis/resilientes às mudanças climáticas?” e “qual é o papel dos traços funcionais e da plasticidade dos traços?”. 

 

Os estudos em modelagem de processos, vegetação e ecossistemas ocorrem há anos no Instituto, de acordo com Ian Wright. “Há uma ênfase real em modelagem de processos, vegetação e ecossistemas em nosso Instituto. Belinda Medlyn e Ben Smith são líderes mundiais em modelagem de vegetação. Então, nós preparamos e escolhemos um local ao ar livre para que os testes sejam feitos. Há o espaço de floresta específico no Instituto, onde onde dióxido de carbono (CO2) é bombeado na vegetação para simular um cenário de mudanças climáticas. E isso está em funcionamento há 10 anos, e as medições são feitas considerando a fisiologia das plantas, a respiração do solo e todas as diferentes peças para nos ajudar a entender o carbono, o nitrogênio, o fósforo, bem como os ciclos da água e os ciclos do carbono em todo esse sistema”, afirma o pesquisador. 

 

Por fim, Wright, juntamente com os pesquisadores Brendan Choat e Brian Atwell, da Macquarie University, bem como outros da Universidade de Tecnologia de Queensland e da Universidade de Queensland, realizam estudos para o sucesso das plantas na natureza e na agricultura para o Conselho Australiano de Pesquisa.

 

Os pesquisadores promovem adaptações ao calor e à seca em eucaliptos e gramíneas nativas para analisar as suas reações. Os estudos são promovidos em conjunto, tanto em estufas, quanto em laboratório, para verificar fotossíntese, respiração, hidráulica, morfologia foliar, anatomia da madeira, química da cutícula e permeabilidade, bem como características reprodutivas das espécies vegetais. 

 

Por último, mas não menos importante, o professor da Macquarie University, doutor Julian Schrader, realizou a apresentação “Monitoramento de floras insulares”, abordando o estudo de vegetações em ilhas próximas à Austrália. “A Austrália é realmente uma nação insular. Temos mais de 8 mil ilhas por lá. E estou falando de ilhas muito pequenas, o que é simplesmente perfeito para pesquisas em biodiversidade”, afirma o pesquisador.

Doutor Julian Schrader realizando sua apresentação

Por último, mas não menos importante, o professor da Macquarie University, doutor Julian Schrader, realizou a apresentação “Monitoramento de floras insulares”, abordando o estudo de vegetações em ilhas próximas à Austrália. “A Austrália é realmente uma nação insular. Temos mais de 8 mil ilhas por lá. E estou falando de ilhas muito pequenas, o que é simplesmente perfeito para pesquisas em biodiversidade”, afirma o pesquisador. 

 

Para cerca de 850 ilhas, há um levantamento de vegetação de anos, sendo possível realizar estudos comparativos da vegetação, analisando quais espécies sumiram ou quais são novas no ambiente. “Foram feitas diversas amostras para ver como a vegetação está mudando ao longo do tempo. Você pode realmente ver como estava a vegetação na década de 1980 e na década de 2000, e ver quais peças estão indo e vindo na natureza. É um banco de dados que ajuda a ilustrar alguns novos resultados”, afirma. 

 

A pesquisa de Schrader pretende responder às seguintes questões: “o que explica a renovação temporal das espécies?”; “as espécies individuais diferem nas taxas de colonização e extinção; e se sim, por quê?”; “já vemos migração de espécies em direção aos pólos?”; e “as espécies naturalizadas estão superando as nativas ao longo do tempo?”. 

 

De acordo com o professor da Macquarie University, as espécies que têm as maiores propensões de extinção são aquelas que são pequenas, têm sementes pequenas e têm massa foliar muito baixa, uma análise que colabora para que sejam feitas ações específicas de conservação para essas espécies.

Pesquisadores debatendo com o público sobre as questões que foram apresentadas

E, depois de tanta teoria, os participantes da Missão tiveram a oportunidade de ir um pouco para a prática, realizando uma visita à Golden Tree Viveiro Florestal. A empresa existe há mais de 20 anos, focando na produção de mudas de Eucalipto e Pinus. O objetivo é produzir madeira, tanto para o consumo do mercado interno, quanto externo. 

 

As mudas florestais, utilizadas para reflorestamento, presentes no viveiro são Pinus taeda, Pinus elliottii e Eucalipto benthamii. Além delas, a Golden Tree também possui mudas para pastagens, sendo Tifton 85, Missioneira gigante, Jiggs e Kurumi.

Participantes da Missão em visita à Golden Tree Viveiro Florestal

Os pesquisadores presentes no evento puderam ter contato com exemplares de Eucalipto e Pinus plantados na área da empresa e conversar com os funcionários do local para entender um pouco mais da produção das mudas, sobre as práticas de reflorestamento e, claro, sobre os avanços científicos proporcionados, uma vez que a Golden Tree é uma das parceiras do NAPI Biodiversidade e oferece seu espaço para que pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) realizem estudos por lá.

 

Após a visita, os participantes da Missão colocaram o pé na estrada rumo à Foz do Iguaçu. Sim, ainda têm muita ciência para ser compartilhada desse mega evento! Continue conectado nas redes do NAPI para saber o que rolou na cidade da Itaipu Binacional, uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo!

Participantes da Missão em visita à Golden Tree Viveiro Florestal

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