Pesquisadores estrangeiros abordam serviços ecossistêmicos em evento paranaense

Cientistas do Brasil, Austrália e Moçambique abordaram semelhanças sobre o tema em diferentes países

Sabemos que uma das bases do NAPI Biodiversidade é a área dos serviços ecossistêmicos, o que gerou o Arranjo NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos. Se você ainda não está familiarizado com o termo, pode entender um pouco mais sobre esse campo de estudos aqui mesmo em nosso site, na aba Sobre do Arranjo. E para quem já é próximo do assunto, que tal se aprofundar um pouco mais, por meio das apresentações que ocorreram na sessão temática “Biodiversidade e serviços ecossistêmicos”, durante a Missão de Pesquisadores Estrangeiros no Paraná?

 

A sessão foi coordenada pela coordenadora institucional do NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos na Universidade Federal do Paraná (UFPR), doutora Isabela Galarda Varassin. As apresentações ocorreram na manhã do dia 10 de abril, nas dependências da Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), em Guarapuava.

Doutora Isabela Galarda Varassin realizando sua apresentação durante o evento

A professora falou sobre Arranjo, explorando seus objetivos e o que tem sido feito até o momento. No que diz respeito à polinização, ela comentou que existe o mapeamento da produção agrícola, meliponicultura e apicultura, bem como da polinização como um serviço ecossistêmico. Além disso, estão sendo analisadas como as mudanças no uso da terra pelos seres humanos têm impactado na polinização e nas redes de interação desse sistema. 

 

Outro aspecto muito importante para os pesquisadores do NAPI é analisar a possibilidade de prever quais as ofertas de polinização em cenários futuros, considerando os níveis crescentes e intensificação de ação ecológica agrícola.

 

Além disso, de acordo com a coordenadora institucional, um outro projeto que está em desenvolvimento pelos pesquisadores é uma síntese de interações entre plantas-polinizadores no Brasil. Para isso, será necessário construir um banco de dados nacional dessa interação de planta-polinizador. Algumas etapas serão fundamentais:

Posteriormente, também será necessário a identificação de preconceitos e lacunas no conhecimento espacial das interações planta-polinizador para todos os biomas, bem como comparar os padrões estruturais das redes de interação entre biomas, segundo Varassin.

 

A coordenadora também apresentou um último projeto que vem sendo desenvolvido, o INCT Polinização (INPol). Este tem como objetivo o conhecimento, conservação e o uso sustentável de polinizadores. Você pode conhecer um pouco mais sobre ele em uma matéria especial que já fizemos por aqui! É só clicar nesse link

 

Após esse breve apresentação do NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos, quem deu início as falas da sessão foi a coordenadora institucional do NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos na Universidade Estadual do Paraná (Unespar), doutora Cassiana Metri. Ela fez a apresentação “Saúde dos manguezais da Mata Atlântica”. 

 

E o que são os manguezais? Bom, eles são ecossistemas litorâneos que ocorrem na transição entre a terra firme e o mar. De acordo com Metri, o Sul do país tem um grande bônus em relação a esse tipo de ecossistema. Por termos o fragmento mais contínuo de Mata Atlântica, temos os manguezais mais conservados do Brasil.

E os benefícios gerados pelos mangues são diversos! Seja no aspecto ecológico, social ou econômico: 

A professora comentou sobre pesquisas realizadas com o Aratus pisonii, popularmente conhecido como Escalador Marinheiro, que vivem e se reproduzem nos manguezais. São uma importante espécie de caranguejo porque, ao se alimentarem das folhas das espécies arbóreas, deixam que algumas caírem no solo. Esse material é alvo de fungos e bactérias que se tornam a fonte de alimento de uma outra espécie fundamental, o Caranguejo Uçá. Ele é a base da atividade econômica de diversos moradores da região, sendo fonte de alimento e renda. 

 

Mas não é apenas esse o benefício vindo dessa relação entre essas espécies. O Uçá tem o hábito de levar as folhas para as suas “casas”, que são os buracos feitos na lama dos mangues. Bem parecido com os buraquinhos de siris e caranguejos que vemos nas areias das praias!

 

E o que isso tem de benéfico? Essas folhas também acabam por alimentar o solo com carbono, o que tem feito com que os manguezais se tornem grandes reservas deste gás. É chamado de “carbono azul” – para combinar com os ecossistemas marinhos e costeiros -, enquanto o carbono gerado pelas florestas e outros ecossistemas terrestres é o “carbono verde”.

Doutora Cassiana Metri realizando sua apresentação durante o evento

Para que os manguezais continuem produzindo tantos pontos positivos para o nosso meio ambiente, é necessário a sua preservação. De acordo com a professora, há, infelizmente, diversas preocupações nesse sentido. A desinformação da importância do mangue, a grande quantidade de lixo depositada nesses locais – como se fossem verdadeiros lixões – e as construções feitas próximas aos manguezais têm colaborado para a sua deterioração. 

 

Essa preocupação não se restringe apenas ao Brasil. O professor da Universidade de Licungo, doutor Alberto Charrua, realizou a sua apresentação “Serviços ecossistêmicos de manguezais: estudo de caso da província de Sofala em Moçambique”, logo após Metri, abordando um cenário em outro continente. 

 

De acordo com o professor, Moçambique é muito conhecido por possuir diversas áreas com alta biodiversidade e abrigar 14 Regiões Ecológicas (RE), que são zonas definidas ecológica e geograficamente, sendo maiores que um ecossistema. Seis das REs estão localizadas na província de Sofala, incluindo os manguezais da África Oriental. Inclusive, o segundo maior manguezal da África se encontra em Moçambique.

Doutor Alberto Charrua realizando sua apresentação durante o evento

Essa província é habitada por mais de 2 milhões de pessoas, a maioria vivendo em pobreza e dependendo muito da natureza para subsistência e rendimentos, explica Charrua. Assim, a agricultura de subsistência acaba sendo a principal atividade econômica, seguida pela pesca e produção pecuária.

 

O professor destaca que esse grande contato humano com os manguezais é um dos grandes fatores para sua destruição. As ações humanas, seja para construção de residências ou mesmo para a produção de carvão nas regiões dos mangues, têm afetado negativamente a conservação desse ecossistema em Sofala. 

 

Além disso, a prática da aquicultura – cultivo de organismos que o ciclo de vida se dá total ou parcialmente em meio aquático, como peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios, répteis ou plantas aquáticas – também tem colaborado para a deterioração desses ambientes. 

 

Mas, também há problemas de origem natural para os mangues. O professor, juntamente com uma equipe de pesquisa, realizou um estudo após a ocorrência do ciclone Idai, em Moçambique, no ano de 2019. Eles quantificaram as perdas de diferentes usos da terra e da cobertura de mangues após a passagem do ciclone, comprovando o impacto negativo dessa ação natural nesse ecossistema. O professor ressalta que Sofala faz fronteira com a área mais ativa de ciclones do sudoeste do Oceano Índico, sendo a região mais ameaçada do país nesse aspecto. 

Doutor Alberto Charrua realizando sua apresentação durante o evento

Para colaborar na preservação dos mangues em Sofala, ele e sua equipe estão criando um programa inovador de macroconservação. “Nós vamos envolver grupos de poupança. É como um grupo de microfinanças, em que as pessoas participantes irão contribuir todos os meses com um valor destinado ao reflorestamento dos manguezais”, afirma o pesquisador. 

 

Após a apresentação de Charrua, a sessão abordou um outro tema dentro dos serviços ecossistêmicos extremamente importante, que é a polinização. O professor da Western Sydney University e pesquisador do Hawkesbury Institute for the Environment, doutor David Tissue, iniciou a sua apresentação “Polinização como serviço ecossistêmico”, abordando sobre estudos de abelhas sem ferrão como polinizadoras de morango em estufa.

 

Segundo um estudo realizado pelo professor, os morangos são frutas que precisam de uma forte atividade de polinização para fertilizar os muitos óvulos de suas flores. “Cinco visitas de uma abelha sem ferrão dão 60% de chance de obter uma fruta de primeira qualidade e quando essas visitas aumentam para dez, esse número sobe para 80%”, afirma o Tissue. 

 

Dessa forma, é possível verificar a necessidade de analisar as taxas de lotação das colmeias disponíveis em estufas de produção de morangos, para assim produzir frutos com cada vez mais qualidade. Além disso, é importante compreender mais sobre polinizações eficazes, pois na Austrália esse processo é muito caro.

Doutor David Tissue realizando sua apresentação durante o evento

“Os custos trabalhistas para essa função são exorbitantes no país. Dessa forma, estamos realizando estudos e experimentando de muitas maneiras diferentes para aumentarmos a eficácia da polinização, mecanicamente e biologicamente, em um objetivo de baratear a produção de alguns alimentos”, afirma o professor. 

 

Além disso, Tissue e sua equipe também realizam pesquisas com as chamadas “blue-banded bees”, que são as abelhas com faixas azuis, nativas da Austrália. “Elas são polinizadores vibrantes, ou seja, a vibração de suas asas transmite o pólen. Algumas culturas exigem o trabalho dessa polinização vibrante, como o tomate, que é uma cultura extremamente importante para nós”, afirma. 

 

Devido a sua importância, o novo projeto de pesquisa pretende preencher lacunas acerca do conhecimento desse tipo de abelha. “Podemos tê-las em cativeiro? Podemos reproduzi-las em massa? Elas são eficazes em termos de variedade de culturas? Como implantá-las de forma eficaz em cultivos protegidos?”, questiona o pesquisador. 

 

Os estudos do professor não se restringem apenas a estufas, uma vez que ele também desenvolve pesquisas ao ar livre. “Trabalhamos na Tasmânia, uma pequena ilha muito, muito ao sul da Austrália. Estamos tentando descobrir quais culturas agrícolas no país não possuem a visitação dos polinizadores, a eficácia dos diferentes visitantes, as modificações da paisagem e o aumento das populações de polinizadores. Portantox as mudanças no uso da terra são muito importantes, e os padrões de movimento espacial dos zangões. Vamos rastreá-los, descobrir onde estão e ver se conseguimos descobrir quais são os seus polinizadores eficazes”, conclui Tissue.  

 

A temática dos serviços ecossistêmicos é capaz de proporcionar diversas discussões enriquecedoras e reflexivas, não é mesmo? Mas essa foi apenas uma das incríveis sessões temáticas que ocorreram durante a Missão de Pesquisadores Estrangeiros. Continue conectado nas redes do NAPI Biodiversidade para ficar sabendo sobre mais temas que foram abordados por lá!

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