A iniciativa ocorreu em Ponta Grossa, no Paraná
Imagine só conseguir doar mais de 12 mil mudas de plantas em um único dia de evento? Essa é a força que o Arboriza Ponta Grossa possui, evento promovido pelo Viveiro da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)! A sexta edição ocorreu no dia 22 de março, no Colégio Agrícola Augusto Ribas, da UEPG (Caar-UEPG), atraindo mais de 1500 visitantes. Os participantes saíram com as mãos cheias, mas também foram convidados a fazer uma boa ação para entrar no evento: levar alimentos não perecíveis para doação. Foram arrecadadas mais de meia tonelada, destinados à Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Oficinas (Acamaro).
O Viveiro da UEPG tem uma história recente, mas que já gerou muito impacto em poucos anos. Ele nasceu em 2019, idealizado pelos doutores e pesquisadores do NAPI Biodiversidade: Recursos Genéticos e Biotecnologia, Carlos André Stuepp e Rosimeri de Oliveira Fragoso. O objetivo era construir, dentro da própria universidade, um conceito de produção de mudas de espécies florestais com foco em algumas linhas de atuação. Inicialmente, essas linhas seguiram a área dos dois professores: arborização urbana, restauração ecológica e silvicultura clonal. Esta última é a ciência que estuda as maneiras naturais e artificiais de restaurar e melhorar o povoamento nas florestas.
“O Viveiro trabalha hoje com mais de 100 espécies, nativas e exóticas, mas com um foco muito grande nas nativas. É um local muito rico em diversidade, alinhado à restauração de ecossistemas degradados, à pesquisa associada a espécies nativas, bem como à tecnologia e qualidade das mudas. Além disso, há a clonagem, principalmente, de duas espécies, a araucária e a erva mate”, explica Stuepp.
A atuação do Viveiro se sustenta na tríade ensino, pesquisa e extensão, ou seja, um espaço que permite o desenvolvimento de estudos e pesquisas, bem como a realização de aulas e troca com a comunidade.
Doação de mudas durante o evento Arboriza Ponta Grossa (Foto: Evento Arboriza Ponta Grossa)
Para além das linhas de pesquisa citadas anteriormente, uma outra é em parceria com a coordenadora institucional do NAPI Biodiversidade, doutora Jesiane Stefania da Silva Batista, que envolve microbiologia de sistema radicular com bactérias promotoras de crescimento vegetal. A finalidade é melhorar a qualidade das mudas e aumentar o potencial de sobrevivência e resiliência das mesmas no campo, algo que colabora diretamente com a restauração ecológica. Além disso, há também pesquisas envolvendo o uso de fertilizantes e tecnologias associadas a embalagens biodegradáveis, com esse mesmo fim.
Existem, também, duas linhas de pesquisa com as araucárias. A primeira tem como objetivo gerar mudas para produção precoce de pinhões, com o uso da enxertia como técnica de propagação vegetativa, ou seja, com a utilização de materiais vegetais adultos. “Isso para tentar tirar um pouco essa pressão de produção das florestas naturais de araucária, produzindo pinhões em pomares clonais, garantindo uma resiliência maior para as florestas em função da disponibilidade de alimento e habitat para os animais de maneira geral”, afirma Stuepp. Já a segunda tem como objetivo a produção de madeira, utilizando a miniestaquia como técnica de propagação vegetativa, ou seja, com o uso de materiais juvenis.
Além disso, há também pesquisas com nanorreguladores, aqueles reguladores vegetais nanoencapsulados, em parceria com projetos subsidiários ao NAPI Biodiversidade. O foco é na melhoria do enraizamento de espécies em situações críticas, como a araucária e a erva-mate, para auxiliar no sucesso da sua plantação e do seu crescimento.
Pontos informativos sobre mudas e sua manutenção (Foto: Evento Arboriza Ponta Grossa)
E para aproximar da comunidade todos esses estudos e avanços desenvolvidos pelo Viveiro, foi criado o Arboriza Ponta Grossa, também em 2019. “Nós queremos mostrar para as pessoas que é possível construir uma comunicação assertiva com foco na educação ambiental para a melhoria da qualidade das florestas urbanas, ou seja, das árvores individuais dentro da cidade, mas também daqueles fragmentos florestais que existem ou deveriam existir ao longo dos rios, por exemplo”, explica o doutor Carlos André Stuepp.
De acordo com o organizador, inicialmente, o evento era mais conhecido pela doação de mudas, colaborando para o reflorestamento e para conectar mais as pessoas à preservação e cuidado com as árvores. Mas, conforme as edições foram passando, as pessoas começaram a buscar mais do que a doação, mas, também, o conhecimento que é construído dentro das universidades. “A gente não doa mudas como objetivo principal, o objetivo é a educação ambiental. A muda é uma forma de atrair as pessoas que têm interesse em construir essas florestas urbanas ou essa arborização urbana mais qualitativa”, afirma.
A professora Jesiane, parceira do evento, disponibilizou a utilização de microscópio para que os visitantes pudessem ver as bactérias estudadas, além de terem sido apresentadas as pesquisas desenvolvidas dentro do Viveiro, feitas em parceria entre o NAPI Biodiversidade e o Laboratório Biodiversidade UEPG. Foram realizadas 10 sessões temáticas para que a comunidade e pesquisadores pudessem participar e se inteirar melhor sobre os avanços científicos desenvolvidos.
Ainda, na sexta edição do evento, houve uma novidade: a doação de mudas para 40 projetos de restauração ecológica, sob coordenação da doutora Rosimeri. Além disso, foram apresentados os melhores métodos silviculturais aplicados à restauração ecológica. “São 40 pontos de restauração que vão gerar um potencial de nucleação com espécies nativas, algumas ameaçadas de extinção, e que vão auxiliar na conservação dessas espécies e das florestas aqui na região dos Campos Gerais”, explica Stuepp.
Pontos informativos sobre mudas e sua manutenção (Foto: Evento Arboriza Ponta Grossa)
O organizador lembrou, também, sobre uma outra doação de 5 mil mudas de espécies aromáticas, sob coordenação do professor e doutor, Arthur Calheiros Amador. Por trabalharem com clonagem, essa ação se tornou ainda mais fácil. “Clonar árvores de fato é difícil, mas a gente clona espécies aromáticas e herbáceas com uma facilidade muito grande. Então, essas pessoas vinham e podiam ganhar até cinco mudas de espécies diferentes durante o evento, além das arbóreas tradicionais que elas já estariam recebendo”, afirma.
A equipe coordenada pelo doutor Arthur ofereceu orientações sobre cultivo e aplicações das aromáticas no dia a dia, envolvendo agronomia, biologia e artes, um conhecimento multidisciplinar.
Doação de mudas de espécies aromáticas (Foto: Evento Arboriza Ponta Grossa)
Além da doação de mudas, o Arboriza também realiza uma tradicional venda de espécies de interesse comercial, constituídas basicamente de plantas ornamentais ou frutíferas, que também são base para pesquisas do Viveiro. A coordenação desta iniciativa ficou por conta da professora e doutora, Marta Regina Baroto Carmo, que, juntamente com sua equipe, trouxe explicações sobre cultivo e venda das espécies.
O criador do evento reflete sobre a importância do Arboriza Ponta Grossa, como um modificador da perspectiva das pessoas sobre a universidade pública. “A gente colocou o evento efetivamente no calendário oficial da UEPG, porque ele começou a ser exigido pelas pessoas. Então, a importância desse evento é conduzir as pessoas a um melhor planejamento estratégico e operacional, tanto para a arborização urbana, quanto para a arborização de propriedades rurais. Além da restauração ecológica dessas áreas, que atualmente são degradadas em propriedades rurais”, conclui Stuepp.