Projeto busca conservação da polinização e uso sustentável de polinizadores
Você se lembra de ter estudado a polinização das plantas na escola? É um dos primeiros assuntos que aprendemos nas aulas de Biologia e que, na prática, tem um impacto imenso na manutenção da vida no planeta. Mas, caso você não se lembre exatamente do que se trata, não se preocupe: a polinização é a transferência de grãos de pólen entre os órgãos masculinos e femininos das flores, sendo fundamental na reprodução das plantas e é o que faz ‘formar’ os frutos e as sementes. Esse tema é tão importante que ganhou, recentemente, um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, o INCT Polinização (INPol), que conta com a participação de pesquisadores do NAPI Biodiversidade.
A distribuição do pólen é comumente realizada pelos chamados polinizadores, ou seja, a água, o vento ou alguns animais. De acordo com o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimento no Brasil – desenvolvido pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP) –, nas comunidades tropicais, 94% das plantas são polinizadas por animais, que são em sua maioria insetos (abelhas, moscas, borboletas, mariposas e vespas) ou, também, aves, morcegos, mamíferos não voadores e lagartos.
Claro que a polinização não é restrita a manutenção das florestas ou a diversidade de flores, mas, também, é fundamental para uma produção agrícola efetiva. As abelhas, por exemplo, são o grupo de polinizadores principal na agricultura. Estão presentes em mais de 90% dos principais cultivos agrícolas já estudados no mundo, ainda segundo o Relatório.
Porcentagem de cultivos polinizados por cada grupo de polinizador(Infográfico: Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimento no Brasil)
Ou seja, a polinização é essencial para que a gente respire melhor, mas, também, coma melhor. No Brasil, há um cálculo que aponta que a polinização relacionada à produção agrícola tem um valor anual de US$ 12 bilhões! É um número expressivo e que reflete a importância do cuidado com a polinização e, claro, com os polinizadores.
As mudanças no uso da terra, agricultura intensiva e de larga escala, uso indiscriminado de agrotóxicos, poluição ambiental, mudanças climáticas globais, espécies invasoras, efeitos indiretos do uso de organismos geneticamente modificados, pragas e patógenos, e, ainda, a interação entre eles, são alguns dos fatores que ameaçam os polinizadores e a polinização, de acordo com o Relatório.
E o que pode ser feito para diminuir o impacto dessas ameaças? “Diversas são as oportunidades de ações, políticas e estratégias – estabelecidas por indivíduos, organizações e governos – voltadas a mitigar os riscos aos polinizadores e a garantir e ampliar os benefícios do serviço ecossistêmico de polinização”, indicam a BPBES e REBIPP.
Dependência de polinizadores e da polinização(Infográfico: Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimento no Brasil)
Nesse cenário, nasceu o INCT Polinização (INPol). Uma equipe de pesquisadores e pesquisadoras foi contemplada em uma chamada pública, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sob as diretrizes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), que expande o Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT). criado em 2008, a iniciativa é composta por grandes projetos de pesquisa de longo prazo em redes de cooperação científica, nacionais ou internacionais.
O INPol vem dessa necessidade de mecanismos e soluções para amenizar os riscos para polinizadores e polinização, desenvolvendo atividades de pesquisa, ensino e extensão nessa temática, a fim de gerar e integrar conhecimento para fomentar a conservação e uso sustentável de polinizadores e do serviço de polinização. De acordo com os organizadores, o INCT tem como base cinco eixos temáticos, com objetivos próprios:
A equipe do INPol conta com a participação de pesquisadores do NAPI Biodiversidade, sendo a doutora em Ecologia, professora Isabela Galarda Varassin, um deles. “O INPol pode ser pensado como o resultado de diversas iniciativas brasileiras de longa data em estudos de polinização e polinizadores. No Paraná, o INPol se une às iniciativas do NAPI Biodiversidade na busca de soluções inovadoras para a crise ambiental e a provisão de serviços ecossistêmicos”, afirma a professora.
Essa formação com base em diversas iniciativas se reflete nas várias instituições brasileiras envolvidas nesse importante projeto: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Embrapa, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ICMBio, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (ABELHA-SP), The Nature Conservancy do Brasil (TNC-BRASIL), Instituto Dríades de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade (DRIADES), Instituto Tecnológico Vale (ITV) e os Institutos Federais – Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT) e Instituto Federal da Bahia (IFBA).
Além disso ,também há participação de universidades federais – Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal de Alfenas (Unifal), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) – e universidades estaduais – Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade de São Paulo (USP).
A expectativa com o INPol é atingir o seu público-alvo, formado pela comunidade acadêmica, tomadores de decisão dos setores público e privado, bem como os agentes dinamizadores de conhecimento. “O INCT é uma oportunidade única para crescimento científico no campo da polinização, tanto para novas abordagens teóricas e metodológicas, como nas demandas da sociedade para conservação da biodiversidade e agricultura sustentável no Brasil.”, afirma o coordenador do INPol, do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Leandro Freitas.