Proposta foi desenvolvida por pesquisadores do NAPI Biodiversidade
Você tem ideia da presença da nanotecnologia no dia a dia? Ela está no notebook que você usa no trabalho, no celular que vai com você para todos os lugares, no tecido da roupa que está usando nesse momento, nos medicamentos que consumimos ou mesmo no protetor solar que protege nossa pele. Enfim, a nanotecnologia é importante nas mais diversas áreas do conhecimento. Engana-se quem a reduz a uma ciência que está voltada para a área das ciências exatas, uma vez que se faz presente e oferece diferencial para a medicina, biologia, geografia e, claro, para as engenharias e eletrônica, por exemplo.
Caso você ainda não esteja familiarizado com o termo: a nanotecnologia é o estudo e desenvolvimento do controle e manipulação de materiais em escala nanométrica, ou seja, as pesquisas e trabalhos são realizados diretamente com átomos e moléculas. Para que você tenha uma ideia melhor dessa escala, 1 nanômetro é 1 metro dividido por 1 bilhão. Algo extremamente pequeno! Por isso, é uma ciência que se refere muito ao tamanho daquilo que está sendo trabalhado.
A nanotecnologia está cada vez mais em alta e presente nas mais diversas áreas científicas, como vimos. Ela também está inserida na agricultura, uma das práticas mais tradicionais do mundo. Por isso, pesquisadores do NAPI Biodiversidade desenvolveram um projeto dentro dessa temática: o INCT NanoAgro. A iniciativa tem o objetivo de formar e reunir recursos humanos de alto nível, de diferentes áreas, para promover avanços da nanotecnologia aplicada à agricultura sustentável e responsável.
Logo do INCT NanoAgro
A proposta foi aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio da CHAMADA Nº 58/2022 – PROGRAMA INSTITUTOS NACIONAIS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA – INCT. O programa INCT, criado em 2008, é moldado por grandes projetos de pesquisa de longo prazo em redes de cooperação científica, sejam nacionais ou internacionais. A proposta será coordenada pelos professores doutores Leonardo Fraceto (Universidade do Estado de São Paulo – Unesp – coordenador) e Halley Caixeta de Oliveira (Universidade Estadual de Londrina – UEL – vice-coordenador).
A ciência em escala nanométrica combina muito bem com a prática moderna de uma agricultura sustentável e, claro, responsável. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a agricultura sustentável é entendida como:
“O manejo e a conservação da base de recursos naturais e a orientação tecnológica e institucional, de maneira a assegurar a obtenção e a satisfação contínua das necessidades humanas para as gerações presentes e futuras. Tal desenvolvimento sustentável (agricultura, exploração florestal e pesca) resulta na conservação do solo, da água e dos recursos genéticos animais e vegetais, além de não degradar o ambiente, ser tecnicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceitável.”
Essa preocupação com uma agricultura mais responsável e com o uso de técnicas, que visam à conservação do meio ambiente, tem sido gradativamente mais presente no Brasil, que é um dos países líderes mundiais em produção agrícola e em riqueza de biodiversidade. Estes dois mundos precisam caminhar juntos, para a construção de um futuro mais duradouro.
Nanotecnologia aplicada
Mas o que de fato torna um material trabalhado na escala nanotecnológica algo especial e um diferencial para o desenvolvimento científico e tecnológico? “Pensando no viés da agricultura, o material em escala nanométrica interage melhor com as células das plantas, ou seja, esse material é melhor absorvido do que outro em escala de tamanho normal. Por exemplo, boa parte de um fertilizante normal, quando é aplicado, acaba se espalhando para além da planta e se perde no ambiente. Já um nano fertilizante vai ser absorvido diretamente nas células vegetais e, por consequência, vai ter maior eficiência no trabalho na planta, uma vez que ela vai realizar uma transferência melhor, seja da raiz para as folhas ou vice-versa”, explica o vice-coordenador do projeto, Halley Caixeta de Oliveira.
O professor destaca que outro aspecto interessante do trabalho com materiais em escala nanométrica é a entrega gradual que ocorre. O produto vai sendo liberado aos poucos, então ao invés de ser utilizada uma grande quantidade de material em uma planta, faz-se o uso de uma quantidade menor e que ainda será mais eficiente. “Dessa forma, vemos que os nanomateriais têm maior eficácia do que o mesmo material em outra escala de tamanho, ocasionando melhores efeitos em doses mais baixas, algo que é muito desejável no aspecto econômico e da sustentabilidade”, completa Halley.
A nanotecnologia já vem sendo considerada uma área prioritária nas políticas públicas no Brasil. O desenvolvimento de nanomateriais focados na exploração sustentável da biodiversidade brasileira para aplicações na agricultura é estratégico para o nosso país. Por isso, o INCT NanoAgro atuará em soluções científicas, que promovam uma agricultura mais produtiva, sustentável e segura. A ideia é que essas ações ainda ajudem a incrementar a inovação tecnológica, permitindo a transformação dos resultados científicos em produtos e processos, por meio de iniciativas de empreendedorismo e projetos de Projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) com empresas.
Além disso, o NanoAgro tem compromisso com a responsabilidade social e ambiental, já que visa o desenvolvimento de produtos sustentáveis e seguros para o homem e o ambiente. Nesse processo, também vai promover a qualificação de recursos humanos e investir em divulgação científica nos mais diferentes níveis, no país e no exterior.
INTC e os NAPI
O INCT também está diretamente ligado ao NAPI Biodiversidade e às metas que o compõem. Dentro do NAPI Biodiversidade: RESTORE, há estudos referentes ao uso de diferentes nanotecnologias para melhorar a produção de mudas de espécies arbóreas, para serem usadas em reflorestamento. Essa tecnologia nano auxilia na melhoria da resistência de mudas a secas, solos degradados, bem como na diminuição da mortalidade das mudas em campos afetados.
Já no NAPI Biodiversidade: Recursos Genéticos e Biotecnologia, o uso de nanotecnologia está relacionado à produção de mudas de plantas ornamentais e plantas com interesse comercial, promovendo uma melhora na germinação dessas mudas e auxiliando no crescimento das mesmas em viveiros. E no NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos, está sendo estudado o possível impacto dessas tecnologias nano em organismos que vivem na água, por meio do monitoramento de sistemas aquáticos.
Em resumo, o INCT NanoAgro é uma proposta grandiosa, tanto em sua temática, quanto em sua equipe. A coordenação atua em conjunto com o Comitê Gestor do INCT composto pelos pesquisadores doutores: Ailton Terezo (Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT), Maria Carolina Blassioli Moraes (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa/Centro Nacional de Pesquisa em Recursos Genéticos – Cenargen), Erika Alvim de Sá e Benevides (Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho – Fundacentro), Diego Stéfani Teodoro Martinez (Laboratório Nacional de Nanotecnologia – LNNano/Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais – CNPEM), Vera Castro (Embrapa/Meio Ambiente), Adriano Arrué Melo (Universidade Federal de Santa Maria – UFSM) e Luís Renato Balbao Andrade (Fundacentro).
O projeto ainda conta com a participação de mais de 30 pesquisadores, 86 bolsistas, 31 colaboradores (nacionais e internacionais) e possui apoio técnico-administrativo vinculados a instituições de ensino superior de diferentes estados – SP, MG, MT, PR, RS e do Distrito Federal. E mais: possui o apoio de empresas de médio e grande porte, e de startups. “Todos unidos para desenvolver e promover grandes avanços científicos e tecnológicos”, conclui o professor Halley.