As apresentações ocorreram no Parque Tecnológico Itaipu, em Foz do Iguaçu
Independente do país, a importância de divulgar a ciência e conectá-la cada vez mais com a comunidade cresce. E essa tradução da linguagem científica para uma linguagem coloquial não é simples, por isso é fundamental a reunião de pesquisadores de diferentes nacionalidades para compartilharem avanços em seus projetos.
A última sessão da Missão de Pesquisadores Estrangeiros no Paraná finalizou o evento com um tópico extremamente importante para difusão da ciência: “Estratégias para engajamento das partes interessadas e interação com a sociedade”.
No dia 13 de abril, a sessão ocorreu nas instalações do Parque Tecnológico Itaipu (PTI), em Foz do Iguaçu, e foi coordenada pela pesquisadora do NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos e professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), doutora Ana Alice Aguiar Eleuterio.
A sessão foi o momento para os pesquisadores compartilharem formas efetivas de aproximar a ciência dos cidadãos. Dessa forma, foram apresentados projetos, técnicas e estratégias para trazer ainda mais inspiração aos participantes do evento.
Eleuterio iniciou as apresentações abordando “Extensão científica e ciência cidadã”. A professora explicou que ela e outros pesquisadores estão trabalhando na Meta 9 do seu Arranjo, intitulada “Interação com a sociedade e outras redes de pesquisa por meio de atividades integradoras para disseminar conhecimento e valorizar a biodiversidade no Paraná”.
Doutora Ana Alice Aguiar Eleuterio realizando sua apresentação
Essa meta se encontra nos três Arranjos que compõem o NAPI Biodiversidade. São mais de 30 pesquisadores envolvidos, distribuídos em sete instituições de ensino superior do Paraná, além de mais de 100 bolsas ofertadas. Dentro da meta já foram desenvolvidos 16 guias de campo, dois e-books para apoio à educação continuada, dois cursos para professores da Educação Básica, bem como dois protocolos para o NAPI Biodiversidade.
E nada melhor para conectar a população ao científico do que as estratégias utilizadas pela ciência cidadã, já que ela consiste nessa parceria entre cientistas e entusiastas na coleta de dados para a pesquisa científica, utilizando metodologias participativas.
Eleuterio apresentou um trabalho desenvolvido seguindo essa linha. “Resposta às mudanças climáticas entre agricultores familiares do oeste do Paraná” foi uma colaboração entre pesquisadores e as famílias de agricultores para essa coleta de dados. De acordo com a pesquisadora, os grupos variaram em relação aos perfis individuais, bem como em estratégias e limitações.
Além disso, a doutora também apresentou uma importante plataforma de divulgação científica: Ecologia e Saúde. É uma página para trazer informações sobre a dengue e demais arboviroses associadas aos mosquitos do gênero Aedes. O conteúdo é desenvolvido por professores e alunos da UNILA, dos cursos de Biotecnologia, Ciências Biológicas, Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar, bem como Medicina.
Outro incrível espaço de divulgação científica também foi apresentado. O Conexão Ciência – C² traz matérias, podcasts, vídeos e ilustrações sobre diversos projetos científicos desenvolvidos em todas as universidades estaduais do Paraná. A jornalista e coordenadora do C², Ana Paula Machado Velho, contou um pouco sobre o projeto e apresentou o seguinte vídeo que conta sobre toda a história e alcance do Conexão Ciência:
O professor da Macquarie University, doutor Julian Schrader apresentou uma outra estratégia para o engajamento da sociedade: a utilização do Youtube como uma ferramenta para tornar a ciência acessível.
Desde 2023, ele e a pesquisadora e videomaker, Cornelia Sattler, possuem um canal no Youtube chamado EcolClips. Por meio dos vídeos, eles documentam e explicam teorias ecológicas, experimentos marcantes e temas clássicos da ecologia por meio de entrevistas com especialistas e curiosidades.
Segundo Schrader, essa “é uma forma de difundir o conhecimento ecológico, bem como aumentar a conscientização sobre problemas e soluções ambientais. Uma maneira divertida e rápida de adquirir mais conhecimento”. Veja um vídeo do EcolClips:
Já a professora da University of New South Wales (UNSW) e pesquisadora do RNA Institute, doutora Selene Fernandez-Valverde, trouxe dados sobre o projeto CABANAnet. É um projeto de fortalecimento de capacidades, ou seja, busca aprimorar as habilidades e competências de indivíduos, organizações e comunidades, para que estes gerem melhores resultados em suas atividades e produzam um impacto positivo no seu ambiente. Em específico, o CABANAnet foca nessa capacitação em pesquisadores de bioinformática na América Latina. Há diversos países e instituições participando:
Doutora Selene Fernandez-Valverde apresentando quem está envolvido no projeto CABANAnet
Mais de 100 cientistas latino-americanos foram treinados para se capacitar em bioinformática e repassar o conhecimento adiante, além de já terem sido realizados quase 30 workshops para o treinamento de mais de 800 participantes. Ainda, o projeto promoveu 7 cursos abertos usando estudos de caso, dentro da temática, na América Latina, bem como tornou público 7 projetos de pesquisas e seus resultados envolvendo dados da América Latina.
De acordo com Fernandez-Valverde, os pesquisadores do CABANAnet pretendem fortalecer ainda mais esse programa pan-latino-americano, aumentando a rede de cientistas capacitados em bioinformática, bem como unindo esse grupo já existente para estabelecer conexões entre os pesquisadores. Assim, eles esperam gerar um impacto positivo nas decisões econômicas e políticas regionais que envolvem a ciência.
E para fechar com chave de ouro a semana da Missão de Pesquisadores Estrangeiros no Paraná, promovida com muito sucesso pela Fundação Araucária e o NAPI Biodiversidade, os pesquisadores puderam se reunir, conforme suas áreas de interesse de pesquisa, para discutir futuros estudos, possíveis colaborações científicas, bem como compartilhar os avanços já realizados por cada um.
Participantes da Missão reunidos para discutir e apresentar seus trabalhos e interesses de pesquisa
Além disso, para encerrar a visita dos participantes à cidade de Foz do Iguaçu, eles tiveram a oportunidade de visitar o O Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), da Itaipu, que é referência em conservação de fauna e flora. O RBV é reconhecido como um posto avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e compõe o Corredor de Biodiversidade do Rio Paraná, que conecta o Parque Nacional do Iguaçu às áreas protegidas da Itaipu e ao Parque Nacional da Ilha Grande.
Por lá se encontram quase 200 animais, de mais de 50 espécies diferentes, incluindo répteis e anfíbios, aves e mamíferos. Os animais vieram do próprio criadouro de animais silvestres da Itaipu, de outros zoológicos ou de órgãos ambientais como Polícia Ambiental, Instituto Água e Terra (IAT), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). São feitos trabalhos de conservação das espécies, recuperação de animais doentes ou mesmo é ofertado um lar para animais que sofreram maus tratos.
Um exemplo super legal de preservação é o RBV, que conta com o maior e mais bem-sucedido programa de reprodução de harpias do mundo, uma vez que já nasceram por lá mais de 50 indivíduos. Além disso, a Unidade teve sucesso na reprodução de onças-pintadas, com os primeiros nascimentos em 2016 e os últimos dois em novembro de 2022.
Participantes da Missão em visita ao Refúgio Biológico Bela Vista
Uma experiência incrível no RBV, que agregou ainda mais tudo o que foi vivido na intensa semana de Missão! Foram diversos conhecimentos, trabalhos e pesquisas compartilhadas, parcerias firmadas entre pesquisadores de países distintos, além de experiências práticas e visitas em locais que colaboram para o avanço científico mundial.
“Este evento foi uma oportunidade ímpar para mim, na medida em que estive aqui, junto com pesquisadores de diferentes países, com diversas experiências, constituindo um momento muito importante, para estabelecermos parcerias. Já temos algumas ideias em comum, de quais estudos podem ser feitos em Moçambique, Brasil e Austrália”, afirma o participante da missão, pesquisador e professor da Universidade de Licungo, doutor Alberto Charrua.