Impacto das mudanças climáticas é foco de debate em evento do NAPI

Pesquisadores brasileiros e australianos apresentaram avanços dentro da temática

Um dos tópicos mais abordados recentemente são as mudanças climáticas e o impacto negativo que elas já causam e podem causar no mundo. Elas são as alterações causadas, ao longo do tempo, na temperatura e no clima. Há variações naturais, no entanto, as grandes mudanças vêm ocorrendo por conta de ações humanas imprudentes, como a queima de combustíveis fósseis, seja carvão, petróleo e gás.

 

A importância desse tema é enorme e, por isso, foi pauta na Missão dos Pesquisadores Estrangeiros. Na tarde do dia 10 de abril, em Guarapuava, ocorreu a sessão temática  “Vulnerabilidade das plantas e adaptação às alterações climáticas”, mediada pelo coordenador geral do NAPI Biodiversidade: RESTORE, doutor Halley Caixeta de Oliveira. A proposta foi comentar sobre um problema em comum no mundo todo e quais são os avanços científicos para combatê-lo. 

 

O professor da Western Sydney University e pesquisador do Hawkesbury Institute for the Environment, doutor David Tissue, apresentou ao público os estudos realizados nessa temática. Com a apresentação “Resposta das plantas às mudanças climáticas e eventos climáticos extremos” ele indicou uma série de eventos ambientais que levam à morte eventual de espécies. Esses eventos são frutos de seis meses de intensas pesquisas e mostram a complexidade da mortalidade, que envolve fatores internos e externos.

Essas conclusões estão colaborando, em especial, com um estudo supervisionado por Tissue, “Determinando as bases fisiológicas da morte do eucalipto em NSW”. Um dos objetivos desse projeto é definir quais os limites fisiológicos críticos para a morte de árvores, associando ao estresse hídrico e ao estresse térmico nas principais espécies de eucalipto que representam a diversidade de florestas e bosques em New South Wales (NSW), estado na costa leste da Austrália.

 

Além disso, há o foco de mapear a morte de árvores associada à seca entre os anos de 2017 e 2020, em NSW. Para isso, os pesquisadores consideram observações terrestres, a cobertura de copa das árvores e a vegetação por sensoriamento remoto. E, por último, há o objetivo de vincular limites fisiológicos com cenários ambientais previstos para o estado de NSW com o objetivo de melhorar modelos baseados em processos que preveem o risco de morte de árvores.

 

Para isso, os pesquisadores levam em consideração diversas características fisiológicas e morfológicas das plantas, pensando desde as raízes até as folhas. Eles realizam as coletas em campo, avaliando os aspectos necessários de cada uma e o ambiente em que ela está localizada. Além disso, contam com o auxílio de imagens de satélite para acompanhar o ambiente estudado. 

 

Com esse projeto, os pesquisadores têm como resultado uma melhor previsão do risco de seca e morte induzida pelo calor para espécies de eucalipto em NSW, bem como uma melhor capacidade para mapear a morte de árvores induzida pelo clima utilizando técnicas de detecção remota. Além do mais, há o entendimento do papel do estresse hídrico e do estresse térmico nos casos em que múltiplos fatores contribuem para  mortes específicas e, claro, também há um grande impacto político para colaborar com a conservação e gestão melhoradas das florestas e bosques de NSW.

Doutor David Tissue realizando sua apresentação durante o evento

“Além de trabalhar em ecossistemas nativos, muitas vezes, trabalhamos em sistemas de cultivo. Eu tenho trabalhado com algodão há cerca de 20 anos e a ideia é encontrar uma maneira de resolver o problema da cultura limpa, buscando um algodão que seja à prova do clima, como uma termotolerância fotossintética. Como fazemos isso? Bem, tentamos melhorar a fotossíntese, explorando a diversidade genética natural. Então, a ideia por trás disso é realizar testes em estufas e também testes no campo. Buscando descobrir qual impacto está associado ao calor e à perda de água. Entendemos a resposta deles. Identificamos os mecanismos de tolerância e, finalmente, procuramos novos traços de resistência que possam ser empregados e inseridos em atividades domésticas e locais”, afirma Tissue.

 

Um outro incrível projeto apresentado pelo professor, é o “Glasshouse Film”, que ocorre dentro de uma estufa transparente, com seu teto recoberto por filmes de cores diferentes, permitindo uma análise do impacto dessas cores nas plantas. Os pesquisadores utilizam filmes azuis, que são os bloqueadores de luz (LBF), para reduzir o consumo de energia das plantas,  bem como utilizam filmes vermelhos, que são de deslocamento de luz (LSF), para aumentar a produtividade das plantas.

 

“Além do filme, a segunda parte deste grande projeto é o monitoramento de culturas feito com um sistema de sensores. Basicamente, usamos inteligência artificial, internet das coisas, algoritmos muito complicados… Então, analisamos todas essas informações e, logo em seguida, sabemos o que vai acontecer, o que colabora para que exploremos ao máximo as potencialidades das culturas”, afirma o professor.  

 

Um outro pesquisador australiano também fez suas contribuições sobre o tema das mudanças climáticas. O professor da Macquarie University, doutor Julian Schrader, realizou sua apresentação “O que esperar em climas futuros?”. Schrader promoveu a análise de diversidades de espécies em um ambiente, considerando diferentes temperaturas.

Doutor Julian Schrader realizando sua apresentação durante o evento

De acordo com o pesquisador, climas extremos, como áreas muito frias ou muito quentes, encontradas, por exemplo, nos polos do planeta ou no centro, tendem a apresentar uma diversidade de espécies bem menor do que climas medianos. Esse já é um retrato natural do nosso planeta, no entanto, quando os ambientes sofrem mudanças devido a alterações climáticas anormais, esse cenário de pouca diversidade se estende para locais antes conhecidos por uma grande variedade de plantas e animais. 

 

Schrader mostrou que seus estudos ilustraram essa questão. Conforme as temperaturas vão subindo, devido às mudanças climáticas, espécies de plantas vão sendo perdidas, bem como a queda da diversidade no ambiente. 

 

E, pensando nessa preservação de espécies e formas de contornar as problemáticas vindas junto com as mudanças climáticas extremas, o doutor Halley Caixeta de Oliveira realizou sua apresentação “Da ecofisiologia vegetal à nanotecnologia: aliando produção agrícola e conservação florestal”.

Doutor Halley Caixeta de Oliveira realizando sua apresentação durante o evento

Oliveira comentou que suas principais linhas de pesquisa e projetos em andamento em Ecofisiologia Vegetal envolvem estratégias de uso de nitrogênio em árvores da Mata Atlântica, além da análise de respostas das plantas ao estresse abiótico – condição imprópria de ambiente ou condição nutricional e física inadequadas -, bem como em soluções baseadas na natureza para melhorar a resistência das plantas a estresses. O coordenador geral apresentou os avanços realizados pelo NAPI Biodiversidade: RESTORE, bem como todas as pesquisas desenvolvidas dentro do Arranjo. 

 

Se você está ligado nas novidades do NAPI, já sabe que o Conexão Ciência – C² também deu espaço para a apresentação desses estudos. Você pode conferir as matérias sobre eles:  “O combate à seca tem novos (e incríveis!) recursos” e “Nanotecnologia é uma das tábuas de salvação da Mata”. Além disso, também já compartilhamos um outro avanço apresentado por Oliveira, que é o INCT NanoAgro

 

E, para a última apresentação do dia, a mestranda e pesquisadora do NAPI Biodiversidade: RESTORE, Larissa Rodrigues, comentou sobre a “Tolerância à seca de espécies lenhosas da floresta estacional semidecidual do norte do Paraná”. Essa pesquisa é orientada pelo professor doutor José Marcelo Torezan e tem o objetivo de iniciar uma investigação em larga escala sobre a tolerância à seca de espécies arbustivas e arbóreas, que são abundantes em fragmentos naturais e amplamente utilizadas em programas de restauração da floresta estacional semidecidual.

Mestranda Larissa Rodrigues realizando sua apresentação durante o evento

Foram selecionadas 34 espécies, baseadas em atributos fisiológicos e morfológicos. Para os próximos passos da pesquisa, Rodrigues deve dimensionar o experimento e obter dados de um maior número de espécies nativas, visando associar a tolerância com características funcionais e criar modelos no nível do ecossistema para fazer previsões.

Pesquisadores reunidos para discutir suas apresentações

Após ricas conversas sobre plantas e sua conservação, os participantes da Missão visitaram uma importantíssima área de proteção integral, o Parque Natural Municipal das Araucárias. Inclusive, no final de 2023, o parque recebeu o plantio de sete mil novas mudas de espécies florestais nativas para aumentar ainda mais sua riqueza!

 

Os participantes puderam observar diversas espécies arbóreas, cachoeiras, animais e, claro, a atração principal do parque, as Araucárias. 

Participantes do evento no Parque Natural Municipal das Araucárias

E esse foi apenas o fim do primeiro dia de Missão em Guarapuava, dá pra acreditar? Continue conectado nas redes do NAPI Biodiversidade para acompanhar os demais dias de Missão dos Pesquisadores Estrangeiros!

Participantes do evento no Parque Natural Municipal das Araucárias

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