Pesquisadora do NAPI realiza palestra no XIII Encontro Sobre Abelhas

O evento ocorreu na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto/SP

Os estudos e pesquisas envolvendo abelhas brasileiras fazem parte das metas estabelecidas no NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos. Uma dessas pesquisas gerou a palestra “Hidrocarbonetos cuticulares em Epicharis (Anepicharis) dejeanii e seus possíveis papéis na comunicação sexual durante a época de acasalamento”. A discussão foi apresentada no Simpósio: Biologia de Abelhas Solitárias do XIII Encontro Sobre Abelhas, realizado em outubro de 2023, na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto/SP. 

 

O estudo foi desenvolvido pelos pesquisadores do NAPI e os professores doutores Silvia Helena Sofia, Welber Costa Pina,  Lenice Souza-Shibatta, Gabriele Antico Freiria, Dra. Amanda Prato da Silva, Fabio  Nascimento e Maria Cristina Gaglianone. As conclusões são fruto da tese de doutorado de Pina. 

 

A palestra com os dados da pesquisa foi ministrada pela professora Silvia, a convite da comissão organizadora do evento da USP. O trabalho foi indicado pela coordenadora do Simpósio “Abelhas Solitárias”, a professora doutora Maria Cristina Gaglianone, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), do Rio de Janeiro. 

Palestrante Sofia e seus orientandos durante o evento.

O objetivo da pesquisa do grupo do NAPI Biodiversidade era analisar o papel de hidrocarbonetos cuticulares (CHCs) no acasalamento de uma espécie de abelha nativa, as Epicharis dejeanii, popularmente conhecidas como mamangavas. E o que são os CHCs? São um tipo de cera, secretada pelo exoesqueleto das abelhas, oferecendo proteção contra doenças, bem como auxiliando na comunicação. O exoesqueleto funciona quase como uma “capa protetora” no corpo desses insetos, uma vez que é uma cutícula resistente, mas flexível, que cobre toda a estrutura física das abelhas, proporcionando sustentação e proteção quanto à dissecação e perda de água.

 

Pensar em uma cera e em comunicação pode até soar estranho, de início, mas tenha a certeza de que é algo que funciona muito bem! De acordo com os estudos realizados, os CHCs liberados oferecem “cheiros” específicos para as abelhas. O cheiro dos machos se diferencia do cheiro das fêmeas, além de também existir diferenças de cheiros entre as próprias fêmeas. As abelhas fêmeas virgens emitem um odor diferente daquelas que já foram acasaladas. E são esses odores sentidos, que colaboram para que as abelhas identifiquem-se entre si e também se reconheçam. 

 

No Simpósio, a professora Silvia lembrou que, para estudar esse comportamento, os pesquisadores coletaram machos e fêmeas da espécie Epicharis dejeanii, em área de restinga na Ilha do Superagui, que fica localizada ao norte da Baía de Paranaguá, no Paraná. Essa área de coleta estava repleta de ninhos construídos por essas abelhas, um comportamento típico dessa espécie. As abelhas mamangavas nidificam, ou seja, constroem ninhos, em agregações, isto é, centenas de ninhos em uma mesma região. Por isso, o estudo dos CHCs é tão importante para compreender a comunicação das abelhas e de que forma os indivíduos que vivem de forma tão próxima fazem o reconhecimento de seus vizinhos e também de seus parentes. “O acasalamento entre machos e fêmeas da mesma família não é desejável, haja vista que há perda da variedade genética”, explica a professora. 

 

A doutora Silvia reforçou, ainda, durante a palestra, que essa pesquisa comprovou, inicialmente, que as abelhas E. dejeanii efetivamente emitem odores distintos para diferenciar os machos das fêmeas, bem como entre fêmeas virgens e copuladas, o que auxilia fortemente no acasalamento da espécie. Além disso, também comprovou a completa ausência de parentesco entre os machos e fêmeas dos seis casais de acasalamento que foram capturados. Ou seja, essa é uma margem segura para atestar a variedade genética existente mesmo em áreas com ninhos em agregações, mostrando que os machos e fêmeas das mamangavas conseguem diferenciar abelhas que possuem parentesco e as que não possuem.

 

É importante lembrar que o convite para a realização da palestra evidencia a importância dos estudos e pesquisas realizados pelos pesquisadores que compõem o NAPI Biodiversidade, uma vez que o Encontro Sobre Abelhas é considerado o principal evento científico sobre pesquisas com abelhas no Brasil. Além disso, os estudos e pesquisas nessa área, auxiliam na compreensão da comunicação entre as abelhas nativas do Brasil, sendo importante para a conservação, tanto das abelhas, quanto dos serviços ecossistêmicos que elas prestam.

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